sexta-feira, 28 de novembro de 2025

Theatro da Paz atravessa um momento crítico. Músicos relatam atrasos no pagamento dos vencimentos, ausência de reajustes salariais

 


Via site Concerto 

Em meio à COP, Orquestra Sinfônica do Theatro da Paz vive crise e indefinição

Músicos do grupo lançam carta aberta em que denunciam “a grave situação pela qual atravessa a mais tradicional instituição musical do Pará”p

A Orquestra Sinfônica do Theatro da Paz (OSTP), principal corpo artístico de um dos mais importantes teatros brasileiros – o histórico Theatro da Paz, em Belém do Pará –, atravessa um momento crítico. Músicos relatam atrasos no pagamento dos vencimentos, ausência de reajustes salariais e um crescente enfraquecimento da organização interna. O problema ganhou repercussão nacional em novembro, quando a revista piauí publicou uma matéria tomando a crise da OSTP como gancho para discutir as dificuldades estruturais enfrentadas pela instituição.

Fundada em 1996 pelo governo do estado de Pará, a orquestra, em quase três décadas de atividades, tornou-se referência na região, em concertos, turnês, gravações e participação em festivais. Desde 2010, a Orquestra Sinfônica do Theatro da Paz tem como diretor artístico e regente titular o maestro Miguel Campos Neto.

A orquestra é gerida pela Organização Social Academia Paraense de Música (APM), em um contrato de gestão com repasses do Estado, que se encerra no fim desse ano. 

Na última sexta-feira, dia 14, os músicos divulgaram uma carta aberta à imprensa denunciando “a grave situação” vivida pelo grupo. No e-mail recebido, afirmam que a Secretária de Cultura do Estado, Úrsula Vidal, não tem respondido às tentativas de diálogo, tampouco oferecido qualquer explicação sobre o futuro da orquestra. 

Na carta aberta, escrevem que estão há quatro anos sem qualquer reajuste salarial e enfrentando atrasos frequentes. Eles dizem trabalhar “sem calendário definido, sem agenda clara e sem condições adequadas de preparação para os repertórios”, o que compromete a qualidade artística e a estabilidade profissional.

Os músicos afirmam que a orquestra está “entre as mais mal remuneradas do país” e alertam para o risco de colapso. Enquanto Belém recebe delegações internacionais durante a COP-30, argumentam que a cidade enfrenta um contraste doloroso: “a capital que sediará uma conferência global sobre sustentabilidade não consegue garantir a sustentabilidade cultural e humana de seus próprios artistas”.

Leia abaixo a íntegra da Carta aberta à imprensa dos “Músicos da Orquestra Sinfônica do Theatro da Paz”:

“Nós, músicos da Orquestra Sinfônica do Theatro da Paz, escrevemos para denunciar a grave situação pela qual atravessa a mais tradicional instituição musical do Pará. 

Enquanto Belém se prepara para sediar a COP-30, recebendo chefes de Estado e atenção internacional, vivemos uma realidade de descaso e desvalorização. Há quatro anos não temos qualquer reajuste salarial e enfrentamos atrasos frequentes no pagamento dos nossos vencimentos. Trabalhamos sem calendário definido, sem agenda clara e sem condições adequadas de preparação para os repertórios. 

No fim de 2025, o contrato da atual Organização Social que administra a orquestra se encerrará. Isso significa que todos os músicos serão demitidos, sem que haja qualquer transparência sobre como ficará o futuro da orquestra: não sabemos se haverá recontratação, se serão abertas novas audições ou se simplesmente se pretende encerrar o projeto artístico que há décadas representa o Pará. 

Some-se a isso a postura da Secretaria de Cultura do Estado, cuja titular tem se mostrado completamente omissa diante da situação. A sua presença no Theatro da Paz só é notada em concertos ligados a grandes eventos oficiais, enquanto os problemas cotidianos que ameaçam a sobrevivência da orquestra são ignorados. 

É inaceitável que a Orquestra Sinfônica do Theatro da Paz, patrimônio cultural da Amazônia, esteja entre as mais mal remuneradas do país e caminhe para um colapso institucional. O contraste é cruel: a cidade que receberá uma conferência global sobre sustentabilidade não consegue garantir a sustentabilidade cultural e humana de seus próprios artistas. 2

Escrevemos esta carta para pedir visibilidade e apoio. A música erudita da Amazônia não pode ser silenciada pela negligência. O Pará merece uma orquestra valorizada, com condições dignas de trabalho e continuidade artística. Músicos da Orquestra Sinfônica do Theatro da Paz”.

[ERRATA (atualização às 17h de 17/11): Diferentemente da notícia publicada originalmente, o chamamento público para escolha da organização responsável pela gestão dos corpos artísticos no próximo ciclo foi publicado no Diário Oficial do Estado em 6 de novembro.]

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