terça-feira, 17 de agosto de 2010

Entrevista com Aquino ex-Superintendente do INCRA em Santarém


Aquino como superintendente do INCRA na Região Oeste do Pará enfrentou uma pedreira, contra empresários e banqueiros, e a Multinacional ALCOA a fim de garantir a terra para famílias que são de uma comunidade com raízes centenárias no assentamento Juruti Velho no Oeste do Pará. Com essa luta também garantiu que a comunidade recebesse royalties pela exploração de Bauxita em suas terras. Foi a primeira vez no mundo que uma multinacional pagou diretamente para uma comunidade royalties sem passar pelas contas do governo.


Aquino com Dilma e amigos (as)

Ananindeuadebates – Aquino, você é candidato a deputado estadual e tem uma história no movimento social. Em 2004 participou do governo Lula, que o chama carinhosamente de Caboclo Bom! Você foi o
primeiro superintendente do INCRA em Santarém, que era uma unidade avançada e na sua gestão virou Superintendência. Conte um pouco da sua história e sua experiência no governo federal.


Aquino – Sou casado com a companheira Núbia Santana e pai de 4 filhos, comecei minha militância política na igreja católica, inicialmente em Santarém, na paróquia de São Raimundo, e depois em Alenquer, na paróquia de Santo Antônio, militando na Pastoral da Juventude e na Pastoral de Direitos Humanos, onde trabalhamos para que o Sindicato dos Trabalhadores Rurais voltasse às mãos dos verdadeiros trabalhadores. Organizamos a oposição sindical e conquistamos o sindicato. Em seguida começamos nossa militância política no Partido dos Trabalhadores em Alenquer, minha terra, onde fui o primeiro candidato a prefeito. Na eleição seguinte fui eleito vereador e no final do meu mandato me mudei para Santarém, entrei então para a assessoria do deputado Paulo Rocha. Depois assumi a direção do Centro de Pesquisa dos Trabalhadores do Baixo Amazonas. Em 2002 fui candidato a deputado estadual, tive quase 15 mil votos, o que nos credenciou na região. Em 2004 fui convidado por Lula para dirigir a unidade avançada do INCRA em Santarém, que depois virou Superintendência, me coube a tarefa de implantar e dirigir este órgão. Aí arregaçamos as mangas da camisa e começamos a trabalhar no ordenamento fundiário. Realizamos o ordenamento e fizemos a regularização fundiária para 58 mil famílias como assentados da reforma agrária, foram criados 148 assentamentos para regularização dessas famílias e esses assentamentos somados têm uma área de 2 milhões e 500 mil hectares, trabalho feito em áreas de terra firme e várzea, tem aí o início do asfaltamento na BR-163. Tem uma situação bastante emblemática que aconteceu na minha gestão à frente do INCRA na comunidade do Juriti Velho, uma área de mineração que tem a multinacional ALCOA.

AD – Foi nessa área onde a ALCOA explora bauxita que aconteceu a Batalha do Juriti Velho, podemos dizer assim. Você como superintendente do INCRA na Região Oeste do Pará enfrentou uma pedreira, contra empresários e banqueiros, a fim de garantir a terra para aquelas famílias que são de uma comunidade com raízes centenárias naquela área.

Aquino – Verdade, essa área tem registro de ocupação humana de 150 anos, portanto uma área de ocupação humana tradicional, com 2.500 famílias assentadas, e dentro dessa área a multinacional ALCOA tem um alvará de lavra do sub-solo, e iria entrar para fazer um trabalho sem levar em conta a comunidade e as famílias que residem lá. Aí nós travamos uma batalha juntamente com a comunidade, conseguimos a criação do assentamento coletivo em uma área de 119 mil hectares, onde está cravada a mineração, platores de mineração da ALCOA, a luta foi para garantir a titularidade e também para que as famílias recebessem royalties. Foi feito um trabalho de destinação da titularidade. Vencemos e hoje a comunidade está recebendo 1,5% da lavra, isso só em 6 meses de exploração da bauxita. Outra luta foi para que a ALCOA pagasse aos assentados indenização pelos prejuízos ambientais causados pela empresa, no valor aproximado de R$ 25 milhões.

AD – Quantas pessoas estão sendo beneficiadas?

Aquino - Aproximadamente 9.500 pessoas.

AD – Tem um dado que é a geração de renda. Esse dinheiro vai circular na região, gerando emprego e movimentando o comércio.

Aquino
Exato, a comunidade fez esse debate. No mês de julho estive lá com Puty, o ex-chefe da Casa Civil do Governo Ana Júlia, que foi uma pessoa muito importante para que garantíssemos essa vitória da comunidade.

AD – O Puty que hoje é candidato a deputado federal participou dessa luta?

Aquino
- Sim, na época em que ele estava à frente da Casa Civil, representando a governadora
, ele condicionou a liberação da licença ambiental, só se a ALCOA se comprometesse a seguir as regras de preservação ambiental e indenizasse as famílias em 25 milhões por danos ambientais e discutisse as reivindicações com a comunidade, além de assegurar a permanência das famílias na área. Quanto à pergunta sobre geração de renda: com o recebimento de 1,5% dos royalties por faturamento, em 6 meses a comunidade, através da cooperativa, recebeu 3 milhões de reais, e eles aprovaram que 50% dos recursos fossem rateados entre as famílias e os outros 50% para investir em projetos de desenvolvimento coletivo para a comunidade, o que vai ter um rebate na economia do município. Olha, é a primeira vez no mundo que uma multinacional paga royalties diretamente para uma comunidade. Sem passar pelas contas do governo.

AD
– Você é candidato a deputado estadual. Nessa eleição, temos visto que os pretendentes a uma cadeira no Legislativo só apresentam nomes e números, não apresentam aos eleitores seus projetos e plataformas políticas. Temos uma legislação eleitoral caduca, enquanto não for feita a reforma eleito
ral teremos esse tipo de coisa. A pergunta é: você tem apresentado ao eleitor suas propostas?

Aquino Temos compromisso de dar continuidade ao trabalho que fizemos à frente do INCRA nos assentamentos: desenvolvimento dos assentamentos, licenciamento ambiental de todos assentamentos e lutar pelo desenvolvimento, para garantir que os assentados tenham acesso à infraestrutura: estrada, água, energia em todos assentamentos, inclusive nas áreas de várzeas. Fazer com que o programa Luz para Todos chegue nessas comunidades para que a população tenha melhoria na qualidade de vida. Vamos estar trabalhando a questão educacional, propondo um sistema de ensino para o campo, a pedagogia de alternância, escolas de qualidade nos níveis fundamental, médio e superior, para que o homem do campo e sua família não precisem abandonar sua terra, sua cultura, sua gente, para ter que estudar fora. Nós estamos trabalhando para que a pedagogia da alternância seja tratada como modelo para o campo. Nosso mandato vai estar na luta pela questão habitacional, tanto rural como urbana, queremos que o cidadão tenha seu teto. No nosso blog www.aquino13200.blogspot.com e no twitter, www.twitter.com/aquino13200pt. , a população pode ver nossa plataforma política e projetos e também participar do nosso programa, dando sugestões e fazendo críticas, temos um canal de redes sociais para interagir com o eleitor. Nossa campanha é construída com a população, nosso e-mail: http://www.blogger.com/aquino13200@hotmail.com .

AD – O governo federal e estadual vêm implementando várias políticas sociais: ambiental, educacional, geração de emprego e renda. No estado temos o Navegapará, o programa para juventude, o Bolsa Trabalho, etc. Você é um militante político que participou da luta dessa geração que tem Lula e Ana Júlia como referências, que lutaram pelo fim da ditadura e depois contra o neoliberalismo dos tucanos. Aqui no Pará foram 12 anos do PSDB no governo, com Jatene no último ano. Esse ciclo levou o estado ao atraso, com a política do Estado mínimo e privatizante (Celpa, Vale e etc) e era um abandono total. Em recente entrevista, a governadora Ana Júlia falou que quando assumiu o governo encontrou um estado de total abandono, com a máquina governamental em frangalhos, teve que começar do zero a reconstrução política e administrativa do Pará, um legado perverso que recebeu do governo do PSDB, tendo à frente Jatene, que foi o último governador tucano nos 12 anos.

Aquino
Sim, começamos do zero como falou a governadora. Os 12 anos tucanos, com Jatene à frente do último governo do PSDB, levaram sofrimento ao povo do Pará, era uma baixa estima danada. Mas arregaçamos as mangas da camisa. No início do governo Lula e depois, quando ganhamos a eleição com a governadora Ana Júlia, essa mulher de luta que está construindo, junto com o povo do Pará, um estado de geração de empregos e renda, inclusão digital e auto-estima e etc. Eles agora estão mentindo e dizendo que são o novo, solicito ao povo do Pará que veja os jornais da época e aí irão ver como eles trataram mal o nosso Pará. Hoje, reeleger Ana Júlia e eleger Dilma é garantir os avanços e ampliação dessa política que está dando certo. Hoje, temos territórios definidos e ordenados e legislação. Falei do caso do Juriti Velho, se essa nossa luta fosse no governo tucano não avançaria. Temos na nossa região o projeto Luz para Todos, regulamentação fundiária, Bolsa Trabalho, o Navegapará, que é o maior programa de inclusão digital do Brasil e hoje está sendo copiado pelo Ministério da Educação. E tantas outras políticas que estão chegando em nossa região, que no tempo do governo Jatene era coisa de papel e de propaganda de televisão.


AD – Aquino, você foi candidato a deputado, como falou no início da entrevista, não foi eleito, mas foi bem votado. E agora, quais as perspectivas para sua eleição?

Aquino
– Eu fui candidato em 2002 para substituir a atual prefeita Maria do Carmo, que foi escolhida para ser candidata do PT ao governo em 2002. Naquela época, não tínhamos as articulações e conhecimentos que temos hoje, mesmo assim tive quase 15 mil votos. Foi uma surpresa agradável e mostrou nossa viabilidade eleitoral, só tínhamos trabalhado em 17 municípios. Hoje, consolidamos nossa ação na luta pela dignidade e direitos dos trabalhadores e da população em geral, com ações práticas. Nesses anos de luta, nunca deixamos de acreditar em uma sociedade mais justa e igualitária. Hoje, temos trabalho em 43 municípios do nosso Pará, acreditamos que a nossa eleição está sendo construída com um trabalho sério e junto com as comunidades. Nosso principal objetivo é a reeleição de Ana Júlia, eleição de Dilma e a nossa eleição. Eleger Aquino 13200, Caboclo Bom, como meus amigos e amigas me chamam carinhosamente, não é um projeto individual, é coletivo, estaremos nessa nova trincheira, sempre na luta por dignidade e direitos para o povo. É obrigado à equipe do Ananindeuadebates por essa entrevista.


AD - Obrigado Você.

2 comentários:

Anônimo disse...

Aquino chamado pelo nosso Lula de Caboclo Bom!,é um homem de luta, tive o grande prazer em acompanha-lo em algumas vindas ha Belém e no interior do estado,tal vez se tivesse a oportunidade de ir a Santarém para da uma força na sua merecida campanha iria com grande prazer.
um grande abraço e boa sorte na sua campanha.


patrick DS Ananin

Anônimo disse...

Mais uma vez, parabéns ao ANANINDEUA DEBATES pela entrevista, pois é uma história de luta que nos faz entender a riqueza de nosso partido com militantes como esse. Viva AQUINO, vida longa camarada, muita vezes não são só as idéias ou ideologias que nos distinguem internamente em nosso partido, mas sobretudo os atos, as ações que ferem o capital e que garantem na prática a melhoria de determinada comunidade e elevação de seu nível de conciência. Garantir o pagamento de royalties direto a comunidade e a compensação pela exploração mineral, é, sem dúvida nenhuma, uma grande sacada deste Cabloco Bom!!!
Boa sorte e boa campanha, companheiro.