domingo, 25 de outubro de 2009

Diário de um Blogueiro


O Blog começa a publicar matérias do jornalista e atual blougueiro Jadson Oliveira(Foto), 64 anos, trabalhou como jornalista, em diversos jornais e assessorias de comunicação, de 1974 a 2007, sempre em Salvador (Bahia). Na década de 70 militou no PCdoB e no movimento sindical bancário. Ao aposentar-se, em fevereiro/2007, começou a viajar pelo Brasil, América Latina e Caribe. Esteve em Cuba, Venezuela, Manaus, Belém/Ananindeua (quando do Fórum Social Mundial/2009) e Curitiba, com passagem por Palmas, Goiânia e Campo Grande. Depois Paraguai e agora está na Bolívia. Virou viajante e blogueiro. Clic aqui e acesse o blog do Jadson Oliveira


Matéria: Avança a integração soberana

Mais de 35 mil pessoas no encontro dos movimentos sociais

De La Paz (Bolívia) – O processo de integração soberana da América Latina avançou mais um pouco com a VII Cumbre da Aliança Bolivariana para os povos da nossa América (Alba), realizada nos dias 16 e 17 últimos, em Cochabamba, Bolívia, sob a presidência do anfitrião Evo Morales A Alba hoje é uma espécie de vanguarda, no âmbito institucional, da luta por justiça social e contra o império dos Estados Unidos, entre os povos normalmente referidos como latino-americanos (embora haja alguns pequenos países, a maioria ilhas do Caribe, vindos da colonização inglesa, e o Suriname, da holandesa).

A Alba foi criada em dezembro de 2004 pelos governos de Cuba e Venezuela, com o nome de "alternativa" (depois virou "aliança"), porque era uma alternativa à Alca (Área de Livre Comércio das Américas), patrocinada pelo império (leia-se "livre" para eles, os que se locupletam com a política das empresas transnacionais)

PRIMEIRA BATALHA DO SÉCULO 21 - Hugo Chávez, presidente venezuelano, conta que o velho Fidel Castro (ainda totalmente na ativa) lhe dizia: "Chávez, nossa primeira grande batalha do século 21 é contra a Alca, vamos derrotar a Alca" Chávez ficava assim meio cabreiro, tinha suas dúvidas, pois estava passando por Cuba vindo de uma cumbre (reunião de cúpula) onde tinha sido uma voz solitária contra o império.

Mas, já eram tempos de mudança na América Latina ("cambio", sem acento, em espanhol, palavra que virou bandeira) Fidel acertou. O movimento contra a Alca cresceu, inclusive com a participação do Brasil, já com o presidente Lula, e o "livre comércio" de Bush empacou. Os povos da Latino-américa e do Caribe agradecem.

Chávez, Evo, Daniel Ortega e Ralph Gonsalves (São Vicente)

A Alba que se reuniu em Cochabamba também já está bem mais crescida Tem nove membros, se contamos com Honduras, que resiste há mais de três meses a um golpe de Estado (o presidente deposto, Manuel Zelaya, vinha adotando posições progressistas, uma delas justamente a adesão à Alba). Além dos fundadores (Cuba e Venezuela), temos ainda: Bolívia, Nicarágua, Equador e as ilhas caribenhas: Dominica, São Vicente e as Granadinas e Antigua e Barbuda (forma uma população em torno de 75 milhões).

Participaram observadores de vários países, a exemplo do secretário geral do Conselho de Segurança Nacional da Rússia, Nicolai Pátrushev. Declaração de Rafael Correa, presidente do Equador, ao chegar para o encontro: "Aqui estamos para dar um passo mais pela integração de nossos povos, por uma integração de irmandade, de fraternidade, não de competição, não de mercado, não de consumo, uma integração para construir uma só sociedade, uma só nação". RESTO DO IMPÉRIO BRITÂNICO - Durante a reunião, o primeiro-ministro de São Vicente e as Granadinas, Ralph Gonsalves, fez uma veemente denúncia contra a influência colonialista da Inglaterra. Pediu aos países da Alba que acompanhem o movimento no seu país, visando organizar um referendo para mudar a situação. "De minha parte, não quero seguir vivendo em território colonial nem um minuto mais", declarou. AS PRINCIPAIS DECISÕES DA CUMBRE de Cochabamba, dentre mais de uma dezena de iniciativas em diversas áreas: 1 – Implantar, se possível já a partir de 2010, o Sistema Unitário de Compensação Regional de Pagamentos (Sucre, sigla que é, significativamente, o nome do Marechal Antonio José de Sucre, assassinado aos 35 anos, um dos libertadores da América do Sul, ao lado de Simón Bolívar e outros). Trata-se de uma espécie de moeda que vai substituir o dólar nas operações comerciais dentro do bloco. O Banco da Alba, que já começou a operar, terá o papel de banco central para administrar o uso do Sucre. 2 – Ainda na área econômica, firmaram-se os princípios do Tratado de Comércio dos Povos (TCP), baseado na complementariedade; acertaram a constituição da Empresa Grannacional de Importações e Exportações; e mais duas empresas, uma para cuidar do alumínio e outra para o ferro e aço. 3 – Foi criado o Comitê Permanente de Soberania e Defesa da Alba, que tem entre seus objetivos a formação da Escola de Dignidade e Soberania das Forças Armadas. É, na verdade, uma tentativa de se contrapor à doutrinação dos comandos militares na América Latina, ministrada pelo Pentágono e serviços de inteligência estadunidenses, cujo resultado desastroso (para as forças populares e democráticas) é a identificação dos movimentos sociais como inimigos da nação. 4 – Foram dados passos iniciais rumo à criação de uma Radio del Sur (Rádio do Sul) e uma Agência de Notícias, além de uma Escola de Televisão e Cinema, visando incrementar ações para furar o cerco midiático exercido pelos meios privados de comunicação. A Venezuela, juntamente com outros países da América do Sul, tem uma iniciativa bem sucedida neste setor que pode servir de modelo, a TV Telesur (Telesul). SINTONIA COM OS MOVIMENTOS SOCIAIS – O encerramento do encontro se deu numa grande festa com as organizações sociais (em se tratando da Bolívia, especialmente o movimento indígena, que representa 60% da população do país), que realizaram, em paralelo, a Primeira Cumbre de Movimentos Sociais. Viu-se a sintonia com as forças populares (Não esquecer a consigna de Evo Morales: "Mandar obedecendo". Aos povos e seus legítimos interesses e não aos "donos do mundo", as corporações multinacionais).

Sala das reuniões: "Coca não é cocaína"

Os presidentes e chefes de Estado, vestindo ponchos e devidamente enfeitados com grinaldas de folha de coca ("Coca não é cocaína", dizia um arranjo floral na sala de reuniões), se confraternizaram com mais de 35 mil pessoas, incluindo delegados de movimentos de mais de 40 países (segundo números de Cambio, jornal estatal da Bolívia).


O dirigente da Federação Departamental (estadual) de Camponeses de Cochabamba, Cupertino Mamani, falando em nome das 36 nacionalidades do país (a Bolívia chama-se hoje, oficialmente, Estado Plurinacional de Bolívia), conclamou a se construir a unidade dos povos e governos da América Latina e a se respeitar os direitos da Pachamama (Mãe Terra): "Se não respeitamos a Mãe Terra não vai haver vida para os povos, façamos com que essa demanda receba o apoio da América Latina e do mundo, companheiros"


A VIII Cumbre será em Cuba em dezembro próximo, quando a Alba estará completando cinco anos. Chávez comentou que, nesse encontro, espera contar com a presença de Fidel Castro, "porque ele é o pai da Alba".

"O lugar mais estimulante do mundo"

"A América Latina é hoje o lugar mais estimulante do mundo. Pela primeira vez em 500 anos há movimentos rumo a uma verdadeira independência e separação do mundo imperial. Países que historicamente estiveram separados estão começando a se integrar. Esta integração é um pré-requisito para a independência. Historicamente, os Estados Unidos derrubaram um governo após outro; agora já não podem fazê-lo".
Quem fala aí é o respeitado pensador e linguista estadunidense Noam Chomsky, em recente entrevista ao jornal mexicano La Jornada. Segue só mais um parágrafo, quem quiser mais (tem muito mais) é só entrar no sítio da Agência Carta Maior:
"O Brasil é um exemplo interessante. No princípio dos anos 60, os programas de (João) Goulart não eram tão diferentes dos de Lula. Naquele caso, o governo de Kennedy organizou um golpe de Estado militar. Assim, o estado de segurança nacional se propagou por toda a região como uma praga. Hoje em dia, Lula é o cara bom, ao qual procuram tratar bem, em reação aos governos mais militantes na região. Nos Estados Unidos, não se publicam os comentários favoráveis de Lula a Chávez ou a Evo Morales. Eles são silenciados porque não são o modelo".


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