Academia Paraense de Letras em Foco
Rufino Almeida |
A Academia Paraense de Letras que é um patrimônio cultural dos paraenses e não só dos seus ilustres membros efêmeros passageiros ocupantes de cadeiras numeradas, voltou com força total ao noticiário jornalístico, por conta da eleição do colunista social Pierre Beltrand, do Grupo Liberal. Não fosse tal vitória contra o Poeta Antônio Juraci Siqueira e o escritor Milton Camargo, duas das maiores expressões literárias do momento no Pará, a notícia não passaria de meras notinhas nos espaços dos colunáveis. Nunca antes na História da Academia Paraense de Letras, uma eleição foi tão questionada quanto esta. Intelectuais do Pará e de várias partes do Brasil se manifestaram contra ou a favor, principalmente através de Blogs. Com todo o respeito que tenho pelo cidadão em causa, creio que a Academia além de ter perdido dois importantes intelectuais, principalmente o Juraci que concorreu a pedido das famílias Bruno de Menezes e Alonso Rocha, a casa dos imortais paraense também perdeu muito da sua credibilidade. Um dos pretensos candidatos me confidenciou: depois dessa, estou com um pé atrás quanto a minha candidatura. Há vagas sobrando e poucos interessados. A oferta é maior que a procura.
Ano passado um grupo de acadêmico da ala jovem se rebelou contra os mais idosos. Escrevi sobre o assunto com o título Divergência Entre Faixas Etárias na APL, Coluna Cartas na Mesa de O Liberal de 30 de maio de 2010, transcrito no final deste texto. Alonso Rocha que representava a velha guarda defendia a integridade moral do ex-tesoureiro. Um pouco diferente do que declarei na referida matéria, os rebeldes já tentavam lavar roupa suja através da imprensa. O grupo articulou uma chapa com uma diretoria sem a participação de Alonso Rocha ou no máximo, dando-lhe uma suplência de segundo escalão. Alonso Rocha que conhecia de cor e salteado todos os artigos e parágrafos dos estatutos, desafiou os rebeldes. Resultado: - O Príncipe dos poetas paraenses foi eleito Presidente da APL.
Tendo sido o principal articulador da candidatura de Sarah Castelo Branco, o então Presidente enfrentou outra crise. Os opositores de Sarah Castelo Branco tentaram adiar a eleição por conta de umas notícias sensacionalistas veiculada na imprensa tentando denegrir a imagem profissional da Juíza. Alonso fincou pé, manteve a eleição e posse da eleita. Entretanto, o grupo não perdeu por esperar. Em 2011 Morre Alonso Rocha. Descortina-se dessa forma, o cenário propício para a vingança através da traição póstuma. Seus confrades que o abraçavam e beijavam-lhe a face, choraram muito no seu velório, mas em seguida ignoraram o inalienável desejo do poeta de que sua cadeira fosse ocupada pelo seu amigo Antônio Juraci Siqueira. Alonso Rocha era um reformista cuja principal bandeira era a reforma dos Estatutos da Academia e atualização do seu Regimento Interno. Se não fosse a fatalidade que tolheu seus passos, brevemente o Silogeu teria um estatuto compatível com a evolução dos tempos, suprimindo artigos inúteis, como por exemplo, o Art. 22 do R.I que indica três acadêmicos para falar sobre os candidatos antes do início da votação. Embora sendo mera formalidade, porque teoricamente os oradores deveriam ter total isenção, nem sempre isso acontece. Um dos oradores fez um resumo da apresentação dos candidatos Juraci Siqueira e Milton Camargo e, finalmente, proferiu um eloqüente discurso sobre a vida e obra de Pierre Beltand, emocionando uma parte dos eleitores, enquanto a outra parte ficava inconformada. Na verdade, a apresentação pareceu um discurso de posse. Se isso influenciou alguém, não saberemos nunca. Entretanto, que foi uma típica boca de urna, não houve nenhuma dúvida.
Do alto dos meus modestos trinta anos de bastidores de entidades culturais, previ com todas as letras que Juraci não seria eleito porque aquela eleição era de cartas marcadas. Juraci Siqueira ou Milton Camargo não seriam eleitos naquele momento nem que fossem detentores do “Prêmio Nobel de Literatura da PAZ.”
DIVERGÊNCIA ENTRE FAIXAS ETÁRIAS NA APL.
(O Liberal – 30 de maio de 2010)
Meu primeiro contato com a Academia Paraense de Letras (APL) ocorreu na década de 80, precisamente em 1984, quando eu ainda residia no Rio de Janeiro. Na época, havia publicado o meu primeiro livro e, a APL foi a primeira entidade literária a receber um exemplar. A partir de 1985, já residindo em Belém, comecei a frequentar o referido Silogeu, por conta da minha profissão de fotógrafo, cobrindo a maioria dos eventos realizados em seu auditório e sessões itinerantes. Durante os 25 anos de participação, travei conhecimento com intelectuais de renome, fiz amizade com alguns e ganhei o respeito da maioria.
O que mais me impressiona na convivência dos acadêmicos paraenses é o espírito de respeito mútuo. Sentam-se à mesma mesa com transparente lealdade, o católico, o espírita, o socialista, o militarista, o de esquerda, o de centro e o de direita. Quando por acaso é sujado um fardão, o mesmo é lavado na própria lavanderia da casa.
As Academias de Letras de um modo geral têm seus quadros formados predominantemente por intelectuais de idade avançada. Entretanto, a Academia Paraense de Letras, em 1946, chamou a atenção do mundo acadêmico, quando elegeu Jurandir Bezerra, um jovem de 18 anos. Hoje, embora ainda predomine a maioria de acadêmicos acima de 70 anos, é visível o aumento dos sessentões.
Para a próxima eleição da nova diretoria, a ala da juventude renovadora se insurgiu, montou uma chapa radicalmente jovem, se mobilizou, e fez campanha até pela imprensa a favor da referida chapa, em detrimento dos mais idosos. Como não foi possível consolidar esse objetivo sem que os mais antigos participassem das articulações, prevaleceu o bom senso. Divergir é humano e democrático. Rachar é burrice. A chapa está formada com a força da juventude e a experiência dos mais velhos. Dessa forma, a APL deu um exemplo de maturidade, coerência e disciplina. A cultura agradece, os mortais aplaudem.
(Rufino Almeida).
(Fotógrafo, Poeta, Escritor e Triatleta)
Um comentário:
Grande Rui!
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Esperamos sua visita e divulgação, nascemos forte e temos muitos colaboradores.
Saudações socialistas!
PJota
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