quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Perseguição de africanos subsaarianos na Líbia preocupa agência da ONU

 
africanos
Africanos subsaarianos, especialmente os provenientes de Níger, Chade e Sudão, foram alvejados pelos dois lados do conflito depois que veio à tona a informação de que alguns africanos trabalharam como mercenários para o regime de Gaddafi

O Alto Comissário para Refugiados, António Guterres, fez um forte apelo para que africanos subsaarianos  sejam protegidos na Líbia, já que relatos apontam que pessoas estão sendo perseguidas em Trípoli devido à sua cor. O Alto Comissariado da ONU para Refugiados (ACNUR) falou pelo telefone na última sexta-feira com Ahmed, um somali que tem vivido em Trípoli como professor universitário desde 2007. Ele permaneceu na cidade desde o início dos violentos protestos anti-governo em fevereiro, que acabaram levando o regime de Muammar Gaddafi e as forças rebeldes à guerra.
Ahmed disse que não sofreu ameaças diretas. Mas agora que os rebeldes tomaram a cidade, ele deseja partir. Na medida em que a maioria dos bairros em Trípoli caiu nas mãos dos rebeldes no começo da semana passada, africanos subsaarianos como Ahmed voltaram a ser alvejados. Segundo Ahmed, “se eles virem que você é africano, que você é negro, você se tornará um alvo”. Ele disse ainda que os residentes locais, muitos dos quais estão armados, estão construindo barreiras nas ruas.
– A situação está muito difícil aqui. Você não pode deixar sua casa nem para buscar água disse ao ACNUR.
Consequentemente, ele e outros somalis estão ficando sem suprimentos vitais. Um grupo de somalis foi atacado enquanto tentava sair de seu apartamento em outra parte da cidade, deixando uma pessoa ferida.
– É realmente muito desesperador  acrescenta.
Africanos subsaarianos, especialmente os provenientes de Níger, Chade e Sudão, foram alvejados pelos dois lados do conflito depois que veio à tona a informação de que alguns africanos subsaarianos trabalharam como mercenários para o regime de Gaddafi. Muitos migrantes fugiram para os vizinhos Egito e Tunísia, mas centenas de outros permaneceram na Líbia. Eles estão presos na capital, já que, novamente, as pessoas negras estão sendo acusadas de colaborar com o ditador.
– Eles dizem que qualquer pessoa negra está contra eles, disse Ahmed, que tem família nos Estados Unidos e um visto esperando por ele na Tunísia – se ele conseguir chegar lá com segurança. O Alto Comissário pediu contenção às forças rebeldes e aos civis.
– Vimos anteriormente que estas pessoas, principalmente os africanos, podem ser especialmente vulneráveis a hostilidades ou atos de vingança. É crucial que o direito humanitário prevaleça nestes momentos de crise e que estrangeiros – incluindo refugiados e trabalhadores imigrantes – sejam completamente protegidos de danos, afirmou.
Combates
As forças leais ao ex-ditador Muammar Gaddafi, integradas por soldados contratados na África Subsaariana, seguem ativas e, nesta terça-feira, participaram de uma batalha que danificou o maior terminal de petróleo da Líbia, disseram trabalhadores do setor e testemunhas. Segundo uma testemunha da agência inglesa de notícias Reuters, chamas e fumaça preta eram emitidos de um tanque no terminal petrolífero de Es-Sider, que carregava uma média de 450 mil barris por dia antes do começo da insurgência contra Muammar Gaddafi em fevereiro.
– Um tanque está em chamas agora, e a expectativa é de que fique totalmente danificado,  disse um funcionário que não quis ser identificado. Ele disse que o tanque provavelmente foi atingido por um foguete nos últimos quatro dias.
Não era possível conferir imediatamente a extensão do prejuízo, e ninguém da Waha Oil Company, empresa estatal que controla o terminal, estava disponível para comentar. O funcionário que foi inspecionar os danos disse que dois incêndios já foram apagados e que ninguém estava trabalhando no momento no terminal, que tem capacidade de armazenar 6,3 milhões de barris de petróleo bruto.
O Conselho Nacional de Transição, governo efetivo da Líbia desde que as forças de Gaddafi foram expulsas da maior parte da capital Trípoli na semana passada, está lutando para reativar sua economia, baseada no petróleo e gás natural. A renda oriunda da indústria petrolífera será vital para o conselho, que tenta pagar salários, restaurar serviços básicos e impor ordem no país assolado pela guerra civil de mais de seis meses contra o governo de quatro décadas de Gaddafi.
Em fuga
O líder deposto da Líbia, Gaddafi esteve em Trípoli até a última sexta-feira, quando deixou a capital e seguiu para a cidade desértica de Sabha, no sul, informou a Sky News nesta terça-feira, citando um guarda-costas de 17 anos de Khamis, um dos filhos dele. O paradeiro de Gaddafi permanece desconhecido desde que forças contrárias a ele tomaram Trípoli e levaram ao fim o governo de 42 anos há uma semana, depois de seis meses de levante apoiado pela Otan e por alguns países árabes. A Sky citou o guarda-costas capturado, cujo nome não foi divulgado, afirmando que Gaddafi se reuniu com Khamis por volta das 13h30 de sexta-feira em um complexo de Trípoli que estava sob forte tiroteio no momento por forças anti-Gaddafi.
O ex-líder havia chegado em um carro e logo em seguida a filha Aisha se juntou a ele.
– Eles tiveram uma reunião bem curta, diz o rapaz. Ele não estava perto deles, mas pôde vê-los muito claramente. Eles entraram em diversos carros Land Cruiser e partiram. Ele (guarda-costas) falou com seu oficial imediato (que disse:) ‘Eles estão indo para Sabha’,  afirmou o repórter da Sky Stuart Ramsay.
Além da cidade-natal Sirte, Sabha é um dos poucos locais remanescentes na Líbia onde as forças pró-Gaddafi se mantêm. Aisha é um dos três filhos de Gaddafi que, junto com a esposa dele, cruzaram a fronteira para a Argélia.

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