domingo, 7 de agosto de 2011

RESGATE DA MEMÓRIA DE LAMARCA NOS 40 ANOS DE SEU ASSASSINATO

Coluna Diário de um Blogueiro: Jornalista e atual blougueiro Jadson Oliveira (Foto), 64 anos, trabalhou como jornalista, em diversos jornais e assessorias de comunicação, de 1974 a 2007, sempre em Salvador (Bahia). Na década de 70 militou no PCdoB e no movimento sindical bancário. Ao aposentar-se, em fevereiro/2007, começou a viajar pelo Brasil, América Latina e Caribe. Esteve em Cuba, Venezuela, Manaus, Belém/Ananindeua (quando do Fórum Social Mundial/2009) e Curitiba, com passagem por Palmas, Goiânia e Campo Grande. Depois Paraguai, Bolívia, Trindad Tobago , São Paulo, Argentina.  e passando férias a trabalho na Bahia. virou viajante e blogueiro. Clic aqui e acesse o blog do Jadson Oliveira



A praça principal da pequena cidade de Brotas de Macaúbas, no interior da Bahia, ficou lotada
para assistir o documentário sobre Lamarca e Zequinha (As fotos são da equipe da revista
Noite & Dia, de Seabra)
Olderico Barreto, irmão de Zequinha, e Reizinho Pereira dos Santos, autor do filme
De Salvador (Bahia) – Um documentário foi lançado no último dia 29/07 e uma vasta programação está sendo preparada para os dias 17 e 18 de setembro, para marcar os 40 anos do assassinato do capitão do Exército Carlos Lamarca e seu companheiro de militância política José Carlos Barreto, o Zequinha. Os dois militantes da esquerda caíram no dia 17 de setembro de 1971 sob as balas de um comando repressivo da ditadura no povoado de Pintada (município de Ipupiara, microrregião da Chapada Diamantina, interior da Bahia), pertinho do limite com Brotas de Macaúbas, cuja sede é uma pequena cidade a cerca de 600 quilômetros de Salvador.

Assim como o filme – “Do Buriti à Pintada”, roteiro e direção de Reizinho Pereira dos Santos, um poeta muito conhecido na região -, os demais eventos serão concentrados basicamente em Brotas de Macaúbas, terra natal de Zequinha e onde vivem seus familiares, como o irmão Olderico Barreto, ferido e preso no início dos episódios que detonaram a caçada a Lamarca e Zequinho. Foi onde o capitão guerrilheiro viveu, no povoado de Buriti Cristalino, os dois últimos meses de vida, isolado no mato fugindo da repressão e sonhando em fazer guerrilha rural para derrubar a ditadura.


O documentário teve lançamento nacional, portanto, entre uma parte da população que viveu – muitos se lembram e alguns dão seu depoimento no filme - o clima de guerra para matar os dois patriotas. A praça principal da cidade de Brotas de Macaúbas, Praça Dr. João Borges, estava cheia de gente, incluindo caravanas de cidades vizinhas. Foi uma noite de emoção e homenagens aos que lutaram pelo fim do regime militar, pela democracia e muitos também pelo socialismo. Além da exibição do filme, houve apresentação de grupos teatrais e cantores da região, tudo direcionado para valorizar a luta do povo e a cultura popular.


Barraca armada na praça para divulgar material relacionado com o documentário
Goiano (no meio, de chapéu e camisa escura, com o grupo do Projeto Velame Vivo): "O autor
do filme soube captar os sentimentos da população local"
O filme, que se restringe ao período vivido por Lamarca na região, parece ter agradado aos assistentes. José Donizete, conhecido por Goiano, por exemplo, destacou a capacidade do autor em captar os sentimentos das pessoas da área, sem cair na tentação de explorar o sangue, a matança. Ele elogiou especialmente o tocante depoimento do pai de Zequinha, José Barreto, na época da “guerra” com 65 anos (morreu em 1995), vítima de bárbaras torturas; e o de João Lopes Salgado, dirigente de organizações clandestinas de luta armada que tinha ligação com Lamarca. (Goiano fazia parte de uma caravana da vizinha cidade de Seabra, organizada pelo Projeto Velame Vivo, movimento social que atua na Chapada).

“Eles foram denegridos com a imagem de terroristas, mas nós sabemos que a história é outra”

“É o momento de resgatar a memória, fazer justiça aos nossos heróis, para que a população se aproprie da história verdadeira. Lamarca e Zequinha foram denegridos com a imagem de terroristas, mas nós sabemos que a história é outra”, comentou o prefeito do município, Litercílio Júnior, do PT, 42 anos, agrônomo. O resgate da memória na região, aliás, foi iniciado desde que os petistas ganharam a prefeitura que esteve por 46 anos nas mãos de grupos da Arena/PFL/DEM.



O prefeito Litercílio Júnior: "Resgatar a memória para que a população se aproprie da
história verdadeira"
O repórter/blogueiro entrevistando Roque Aparecido da Silva, que faz parte da coordenação
dos eventos programados para 17 e 18 de setembro próximo
O dia 17 de setembro, data do assassinato de Lamarca e Zequinha, já é feriado municipal, iniciativa tomada a partir da realização, em 2009, do Fórum do Direito à Memória e à Verdade. E está em construção o Santuário dos Mártires, em Pintada, local da matança, para onde serão levados os restos mortais de Zequinha e de outros militantes, inclusive de Lamarca, dependendo de entendimentos com os familiares.


A programação dos dias 17 e 18 de setembro próximo (sábado e domingo) será intensa. Roque Aparecido da Silva, sociólogo ultimamente trabalhando em Salvador e companheiro de Zequinha na famosa greve dos metalúrgicos de Osasco, em 1968, faz parte da coordenação dos eventos e participou também do lançamento do documentário. Ele informou que para o principal ato público, em Brotas de Macaúbas, no dia 17, está prevista a presença da ministra de Direitos Humanos da Presidência, Maria do Rosário, e de várias outras autoridades, bem como de representantes de movimentos sociais e entidades vinculadas à luta pelos direitos humanos. Haverá eventos também em Pintada. E está incluída na programação uma homenagem ao geógrafo baiano Milton Santos, que morreu há 10 anos e é filho do município.

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