quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

"CHE GUEVARA MOSTROU DESCONHECER A TEORIA E AS LEIS DE UMA REVOLUÇÃO"

Coluna Diário de um Blogueiro

Jadson Oliveira, 66 anos. Trabalhou como jornalista em vários jornais (Tribuna da Bahia, Jornal da Bahia, Diário de Notícias, sucursal do Estadão, jornal Movimento) e assessorias de comunicação, de 1974 a 2007, sempre em Salvador-Bahia. Na década de 70 militou no PCdoB e no movimento sindical bancário. Ao aposentar-se, em fevereiro/2007, começou a viajar pelo Brasil, América Latina e Caribe. Virou repórter/blogueiro. Passou temporadas em Cuba, Venezuela, Manaus, Ananindeua (quando do Fórum Social Mundial/2009) e Curitiba, com passagens rápidas por Palmas, Goiânia e Campo Grande. Depois esteve no Paraguai, Bolívia, Trinidad e Tobago, São Paulo e Buenos Aires. Agora está passando uma temporada em Salvador. Onde está, procura cobrir principalmente os movimentos sociais, com um olho na integração latino-americana. Mantém o blog Evidentemente e colabora com Fazendo Media: a média que a mídia faz, Ananindeua Debates e Pilha Pura.


ANEXO 3 da entrevista exclusiva concedida a este blog por Edmilson Carvalho, professor de Economia Política e velho militante da esquerda, e postada aqui em 21/11/2011  com o título “O marxismo de Marx e Engels nunca existiu para o proletariado brasileiro” (para saber mais sobre Edmilson, ver abertura da entrevista). O título acima é de autoria deste blog. Eis o texto de autoria do entrevistado:


O editor deste blog nos coloca diante de uma pergunta que desdobro em duas, pois envolve situações diferenciadas que precisam ser separadas para serem eludidas. A primeira é: “(...) é possível a existência (ou a construção) de um partido “revolucionário” em meio a esta pasmaceira atual da falta de mobilização popular, o que os marxistas chamariam de descenso do movimento de massas?” A segunda pergunta é: “(...) é possível avançar numa política “revolucionária” (rumo a uma democracia participativa e a algum tipo de socialismo) sem o povo nas ruas, sem o protagonismo dos trabalhadores e da juventude?”

A primeira se refere à ocasião apropriada para a criação de um partido revolucionário, um partido de quadros, certamente, no feitio de Lênin, que é, para raciocinar, o melhor exemplo. Já a segunda trata de assunto diferente, e diz respeito à possibilidade de crescimento do partido e do movimento de massa.

Edmilson: "O grande revolucionário Ernesto 'Che' Guevara demonstrou, a um preço muito elevado, não ter qualquer domínio da teoria e das leis de uma revolução, elementos que sobravam em Lênin e Trotsky".
Diremos, para começar a raciocinar, que a primeira pergunta pode-se responder com um sim, isto é, pela afirmativa: sim, a criação de um partido de quadros pode acontecer em qualquer época e independe do estágio da conjuntura (não devemos esquecer de que são dois problemas, cada um com um método próprio). Não tenho notícia de um só partido de quadros que tenha nascido nas ruas e praças, e deles é possível dar numerosos exemplos de nascimentos diminutos, com 6, 8, 10 e 22 (foi com tal tamanho que o PC do B, o “Partidão”, veio ao mundo) membros. O que torna possível este nascimento aparentemente precoce são algumas características imanentes do partido de quadros, tais como: tratar-se, via de regra, de um partido composto, inicialmente, por intelectuais e operários (alguns nascem sem sequer contar com um só operário), com uma intervenção clandestina, numa conjuntura de “descenso do movimento de massas”, o que se traduz em problemas de segurança.


Essas são questões básicas, mas elas não se esgotam aí, posto que, para além destas, somam-se as de princípio, questões que são ditadas pelo caráter dos partidos de quadros. Um partido de quadros é obrigatoriamente um partido de estrutura pequena, enxuta e extremamente móvel que reúne, dentro dessa estrutura, em tese, obviamente, os melhores elementos entre os melhores intelectuais e operários. Já pelo tamanho se pode ver que não é impossível reunir um número de quadros para preparar os delineamentos do programa, da própria concepção de partido, da tática, da alocação sócio-espacial da organização, da imprensa, de uma questão que salta para o primeiro plano, o plano do recrutamento e da formação, tarefas que podem ser elaboradas longe do movimento de massas e que, como ponto de partida, vão permitir que, quando acionado cresçam juntos: o partido, as mobilizações e as organizações dos trabalhadores.


As conjunturas de descenso são aproveitáveis para uma organização que mobiliza um trabalho científico (lembrar que estamos a falar de partidos que tiveram importância histórica, partidos com “P” maiúsculo, acerca dos quais se fazem restrições infundadas com base na incompreensão das complexas causas do malogro que sofreram - assunto tratado no ANEXO 2, ao falar das dificuldades e ambiguidades da Revolução Soviética).


Como o movimento de massas não é criado por partido, grupos ou mesmo classes sociais, ou seja, como tais movimentos só dependem de leis que brotam do solo social, na condição de componentes objetivos, eles têm normas de crescimento ou de regressão próprias. Rematando, são duas instâncias que devem combinar-se, mas são duas instâncias que têm premissas próprias de crescimento.


Desconhecer tais cenários e suas leis pode ser fatal: o grande revolucionário Ernesto “Che” Guevara é, certamente, o caso do qual se pode retirar as lições mais contundentes, em função da personalidade e da estatura do grande revolucionário que foi. Ele demonstrou, a um preço muito elevado, não ter qualquer domínio da teoria e das leis de uma revolução, elementos que sobravam em Lênin e Trotsky - como pode ser visto nos escritos dos dois, que tratam da Revolução no seu dia-a-dia, sobretudo na monumental obra “de campanha” de Trotsky, A História da Revolução Russa, em cujas páginas sente-se a pressão das leis, de tão bem apreendidas e cuja definição científica está igualmente bem definida no A Bancarrota da Internacional Comunista, de Lênin.

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