Por Altamiro Borges
A estranha pesquisa do Ibope
Nesta sexta-feira, a presidenta Dilma Rousseff participou de um animado comício em Salvador em apoio a Nelson Pelegrino (PT). No seu discurso de quase 20 minutos, ela foi dura nas críticas ao DEM, que disputa a prefeitura da capital com ACM Neto. Ela lembrou que esta sigla conservadora sempre votou contra os avanços sociais no país e citou a questão das cotas raciais e do acesso às universidades aos mais carentes. “A população negra ascendeu à classe média e escancaramos as portas das universidades”, enfatizou.
“Mas tem gente que foi na Justiça contra a lei das cotas raciais nas universidades. Tem gente que diz que o programa Bolsa Família é bolsa esmola. Tem gente que diz que não deveríamos abrir as portas das universidades particulares. Mas nós abrimos com o Prouni... Esta gente não olhou para o povo brasileiro por muito tempo. Os antigos governos eram feitos para os ricos”, fustigou a presidenta. O comício num bairro da periferia de Salvador serviu para animar a militância na reta final da campanha.
Segundo pesquisa Ibope divulgada na quinta-feira, há um sério risco do retorno do famigerado “carlismo” em Salvador. A sondagem, encomendada pela afiliada da TV Globo na Bahia, de propriedade da família de ACM Neto, foi bastante questionada durante o comício. Nela o demo surge com 47% das intenções de voto, contra 39% de Nelson Pelegrino. Outras pesquisas apontam empate técnico entre os dois candidatos. Mesmo assim, a situação é preocupante. Para evitar o retorno do DEM, Lula também irá a Salvador nesta semana.
O coronel Antonio Carlos Magalhães, também conhecido como “Toninho Malvadeza”, comandou a Bahia por quase 30 anos. Filhote da ditadura militar, ele montou uma poderosa estrutura de dominação, agindo sempre com mão de ferro. Ele também construiu um império midiático no estado, associando-se à Rede Globo, num típico caso de coronelismo eletrônico. Ele foi governador, senador e ministro das Comunicações no reinado neoliberal de FHC. Após a sua morte, o “carlismo” entrou em crise e passou a se desintegrar.
"Neto" tenta esconder suas origens oligárquicas
Agora, este bloco conservador e oligárquico tenta ressuscitar com a candidatura do neto de ACM. No início da campanha eleitoral para a prefeitura de Salvador, o demo de 33 anos até tentou esconder as suas origens. Ele estampou apenas o nome “Neto” nas suas peças publicitárias. Garantiu que não tinha vínculos com a política coronelista do passado. “Esses rótulos que a imprensa dá são inadequados. Todo mundo sabe do orgulho que tenho do senador Antonio Carlos. Agora, não há que se falar em reedição do que quer que seja”.
ACM Neto até afastou dos palanques e dos programas de rádio e tevê os velhos caciques do DEM, antigos serviçais do coronel ACM. Ele trocou por rostos jovens do partido e indicou para vice na sua chapa uma jovem negra filiada ao PV. A manobra marqueteira parece ter dado resultado, segundo a questionável pesquisa do Ibope. Mas, como afirma Nelson Pelegrino, a população de Salvador não pode se iludir com o neto de ACM. “Ele corresponde ao que há de pior no grupo do avô, com opressão, mentiras e cooptação de pessoas”.
O discurso da presidenta Dilma Rousseff no comício de sexta-feira à noite teve exatamente o objetivo de alertar os soteropolitanos. O DEM representa o retorno ao passado, a volta dos coronéis que sempre sabotaram as políticas de inclusão social e serviram à elite. ACM Neto é a expressão “repaginada” desta política conservadora contrária às cotas raciais, ao acesso às universidades, ao programa Bolsa Família. O retorno do “carlismo” representaria um duro retrocesso para Salvador, para a Bahia e para o Brasil.
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