Roberto Parizotti/CUT
Cleone (com o microfone na mão) acredita que regulamentação vai apenas fazer com que exploração das mulheres deixe de ser crime
Elas debateram o Projeto de Lei (PL) 4.211/2012, do deputado federal Jean Willys (PSOL-RJ), que descriminaliza a exploração da atividade por casas noturnas e figuras como o cafetão.
Para a secretária da Mulher Trabalhadora da Central, Rosane Silva, o PL referenda um modelo de sociedade baseado no sistema capitalista, no patriarcado e no machismo. Ela criticou ainda a atuação do parlamentar nos bastidores e cobrou políticas públicas para que as mulheres não enxerguem na prostituição uma forma de sobrevivência.
“O Jean está pressionando a Kokay (deputada Érika Kokay do PT-DF) para assumir a relatoria do projeto e enquadrar o PT. E a companheira está esperando a posição da CUT para saber como pensamos. Minha opinião é que ela não aceite ser relatora e organize as deputadas do Congresso para votar contra esse texto. O que precisamos é lutar por políticas públicas que tirem as mulheres da condição de prostitutas”, afirmou.
A dirigente também criticou a Caixa Econômica Federal pelo convênio com a Associação das Prostitutas de Minas Gerais (Aprosmig) para oferecer benefícios como máquinas que aceitam cartões de crédito e debito.
“Um banco público deve atender aos interesses da população e não ter essa posição vergonhosa que só interessa ao sistema financeiro”, falou.
Prostituição como saída
Com a experiência de quem viveu da prostituição durante 15 anos, a militante da Marcha Mundial de Mulheres Cleone Santos também criticou o projeto e destacou que o perfil das mulheres continua o mesmo de quando estava nas ruas: negras ou afrodescendentes, em sua maioria, muito pobres e idosas. Nesse último caso, o perfil mais fragilizado.
“Aos 30 anos, a mulher já é considerada velha pelos donos das casas e vai para a rua, ficar encostada nas paredes, nos pontos de ônibus, nas bancas. E ali passa o resto da vida. Aí vem uma pessoa querendo regulamentar e achando que está fazendo uma coisa boa. As mulheres não estão ali porque querem. Nos lugares onde vou, não foi ela quem decidiu. Ela acorda pela manhã e está faltando comida e se não fizer um programa, por R$ 20, R$ 10, R$ 5, não vai ter dinheiro.”
Para Cleone, a ideia de regulamentação, que pode parecer positiva, na prática, acaba por prejudicar. Da mesma forma que Rosane, ela defende que o melhor caminho é garantir o acesso a direitos que já são garantidos a outras mulheres. “O explorador vai deixar esse papel para se tornar empresário, como nas grandes empresas que contratam as trabalhadoras faxineiras e as mandam para onde quiserem. A regulamentação não facilita vida das mulheres, só vem para sugar. O que queremos sim ter direito a políticas como saúde pública e de qualidade. Que a prostituta tenha direito de chegar ao médico e poder dizer qual é sua profissão sem ser humilhada. Se houver um profissional preparado lá dentro, não precisa de lei. Dentro do mundo do trabalho, esse trabalhador te que estar preparado”, comentou.
Mercado da exploração
Cleone comentou a experiência de Aprosmig, em Belo Horizonte, onde as prostitutas oferecem os programas em quartos de hotéis e são reféns de diárias que giram em torno de R$ 210, conforme comentou. “Não entendo uma associação que diz defender as mulheres, na verdade, defenda os donos dos hotéis. Conheço várias companheiras que foram mortas por dívidas”, crédito.
Ela cobrou que o debate continue no movimento feminista, já que a discussão tem relação direta com a autonomia das mulheres sobre o próprio corpo. “A discussão tem de ir além do projeto, porque são mulheres que estão numa luta quase que solitárias. E se formos pensar, todas nós nos prostituímos um pouquinho, quando aceitamos um chefe safado que nos assedia, quando casamos com um cara que não nos respeita em troca de um poder econômico. A luta é de todas nós.”
Reprodução da opressão
Professora aposentada pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) Iolanda Ide fez um resgate histórico da exploração sexual sobre as mulheres e lembrou que os proprietários de escravos já eram donos também da sexualidade e mandavam escravas para se prostituírem.
Uma situação, afirmou, que é reproduzida na formação de homens e mulheres. “Estamos à mercê de uma estrutura arcaica e profundamente arraigada dentro de nós. Porque aceitamos que meninos possam chegar em casa e jogar sapato, meia, roupa e a menina tenha que ir lavar a louça? O patriarcado penetra profundamente no tecido social e no sentimento das pessoas e faz com que os que sofrem a opressão repitam sem perceber”, explicou.
Como Rosane e Cleone, ela também avaliou que a regulamentação interessa exclusivamente aos exploradores. “No Brasil não é crime nem contravenção penal se prostituir. Crime é explorar, ter prostíbulo, ser gigolô. O Jean Willys quer descriminalizar os exploradores da prostituição com o argumento de proteger direitos das mulheres às vésperas da Copa. A quem interessa isso? Aos homens, porque são eles que são donos das casas, são eles os cafetões e são eles os gigolôs. Novamente o liberalismo vai lucrar em cima das mulheres”, criticou.
Texto originalmente publicado no site da Central Única dos Trabalhadores
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Da Carta Capital
As prostitutas também são mulheres trabalhadoras
É curioso que as mulheres da CUT, por
um moralismo não assumido, atentem contra as liberdades individuais e
contra o direito de uma mulher de dispor sobre seu corpo
por Jean Wyllys
Muito me surpreenderam os ataques
públicos de um grupo de mulheres da CUT contra o "PL Gabriela Leite",
projeto de lei que regulamenta o trabalho das/dos profissionais do sexo e
o distingue do crime de exploração sexual; projeto construído
democrática e participativamente pelas prostitutas organizadas e
apresentado por mim, a pedido delas, na Câmara dos Deputados. (Leia a
posição das mulheres da CUT clicandoAQUI)
E muito mais me surpreenderam as
declarações maliciosas da secretária da Mulher Trabalhadora da CUT,
Rosane Silva (gostaria que ela lembrasse que as prostitutas que
escreveram o projeto também são mulheres trabalhadoras), que disse que
eu estou "pressionando" minha amiga e parceira de lutas, a deputada
Érika Kokay, para que assuma a relatoria do projeto. A deputada Érika é
uma pessoa de convicções e não permite que ninguém a pressione; mas me
parece que, ao contrário do que foi dito, essa declaração contra o
projeto é que pretende ser uma forma de pressão (inútil) contra ela,
para que não assuma a relatoria ou se pronuncie contra o projeto para
não contrariar um setor do seu partido.
Sim, do partido, porque é claro que essa
declaração de algumas mulheres da CUT é, na verdade, uma declaração de
algumas mulheres do PT contra um parlamentar do PSOL que faz oposição de
esquerda ao governo Dilma - declaração que tem um olho no cálculo
eleitoral para 2014. As mulheres da CUT nunca me procuraram para
conversar sobre o Gabriela Leite — como, em outras ocasiões, já me
procuraram para apoiá-las em outras lutas das quais também faço parte,
como a luta pela legalização do aborto e contra o assédio moral no
mercado de trabalho —, como também não procuraram o movimento das
prostitutas; o que, sem dúvidas, teria feito se tivesse um interesse
real - e não apenas partidário - em debater essa reivindicação da
categoria que eu, como deputado de um partido de esquerda que quer
representar os interesses da classe trabalhadora e não tem medo de
fazê-lo mesmo quando envolve temas "polêmicos", decidi defender no
Congresso.
É lamentável que as mulheres da CUT não
levem em conta o trabalho que eu faço em outras frentes contra a
exploração sexual de mulheres e crianças ou as emendas que destinei para
políticas que deem oportunidade para mulheres prostitutas pobres que
desejem deixar de ser prostitutas.
E é lamentável que não respeitem também a
liberdade das mulheres prostitutas que querem continuar sendo
prostitutas e ter seus direitos reconhecidos.
É curioso que as mulheres da CUT, por um
moralismo não assumido, atentem contra as liberdades individuais e
contra o direito de uma mulher de dispor sobre seu corpo, colocando-se
ao lado do discurso dos fundamentalistas que impulsionam projetos para
criminalizar o trabalho sexual, como o PL-377/2011 do deputado
fundamentalista João Campos, o mesmo que defendia a bizarra lei de "cura
gay".
É chocante que as mulheres da CUT não
enxerguem o óbvio: que a prostituição como atividade praticada por uma
pessoa adulta e capaz é diferente da exploração sexual (esta, sim, é um
crime a ser enfrentado; seja quando vitima mulheres, seja quando vitima
crianças e é chamada equivocadamente de "prostituição infantil") e que o
Gabriela Leite - elaborado por mulheres prostitutas organizadas
politicamente (quem melhor para falar em nome delas do que elas mesmas?)
- diz respeito à prostituição como exercício da liberdade individual ou
ao meio de sobrevivência de uma pessoa adulta, e a distingue da
exploração sexual, inclusive apontando os meios de enfrentamento desse
mal (a exploração sexual).
O "PL Gabriela Leite" - que leva o nome
dessa saudosa lutadora, querida amiga, exemplo de luta e inspiração para
mim e para muitos e muitas, recentemente falecida - é uma iniciativa
das próprias trabalhadoras sexuais organizadas. Durante a minha
campanha, elas me procuraram para debater esse assunto e colocar suas
reivindicações em minha agenda, e eu assumi o compromisso de tocar essa
pauta na Câmara, caso fosse eleito — eu eu honro minhas promessas de
campanha, mesmo que impliquem num custo político por contrariar o senso
comum, os preconceitos e os lobbys das corporações. Já deputado, mantive
reuniões com trabalhadoras sexuais, tanto mulheres heterossexuais
quanto travestis e transexuais, de diferentes estados, e também
consultei a opinião dos garotos de programa — mas, como eles não estão
organizados, não participaram como coletivo da redação do projeto. Tenho
pelos trabalhadores e trabalhadoras sexuais o mesmo respeito — e o
mesmo compromisso de acompanhar suas lutas — que por qualquer outro
trabalhador ou trabalhadora.
O "PL Gabriela Leite" como todo
projeto, pode ser melhorado com o debate, mas este precisa ser honesto e
qualificado, sem baixarias e, sobretudo, deve incluir aqueles e aquelas
que são sujeitos políticos dessa luta. Devemos deixar atrás a
arrogância de pensar e decidir em nome de quem que nem sequer convidamos
a participar de uma discussão que diz respeito a sua vida. Quando
Gabriela me trouxe essa demanda e eu comecei a me reunir com as
prostitutas em diferentes estados e cidades, a dialogar com elas e a
ouvir suas experiências de vida e suas reivindicações, ficou claro para
mim que eu sabia muito pouco e precisava aprender. Aprendi com elas e
estou muito agradecido! Um representante do povo precisa ouvir, não
apenas falar! Tem aspectos do projeto que eu só entendi depois de
ouvi-las, e gostaria que aqueles que fazem ataques tão levianos tivessem
a mesma disposição e humildade.
O debate sobre a prostituição, tanto no
movimento feminista quanto no movimento LGBT, está longe de acabar. Não
há uma opinião comum, nem no Brasil, nem no mundo. Há quem seja a favor
da regulamentação do trabalho sexual (como eu) e há quem seja
abolicionista e considere que toda forma de prostituição é uma forma de
"mercantilização do corpo da mulher" — esquecendo, aliás, a prostituição
masculina.
Eu defendo que todos e todas nós sejamos
donos do nosso próprio corpo e, pelo mesmo motivo que sou a favor do
direito das mulheres a decidir sobre a interrupção voluntária da
gravidez, sou contra a criminalização dos usuários de drogas atualmente
ilegais, sou a favor do direito das pessoas trans a fazerem cirurgias de
transgenitalização e/ou tratamentos hormonais (se assim o desejarem!) e
a ter seu nome e sua identidade reconhecida (independentemente do que
façam com o corpo), sou a favor da morte digna e da autodeterminação
sobre o fim da própria vida; também considero que toda pessoa adulta e
capaz tem direito a decidir livremente se quer exercer a prostituição.
Considero que há uma parte da esquerda e
do feminismo que tem uma posição conservadora e moralista sobre o uso
do corpo e sobre a sexualidade (moralista e, inclusive, machista!), pela
qual comete a contradição ideológica de defender o direito da mulher a
abortar mas, ao mesmo tempo, pretender que o Estado tutele o corpo dela
quando se trata da prostituição. Se o trabalho sexual é uma forma de
mercantilização do corpo, qualquer trabalho que envolva o corpo também
é! O que é que diferencia o pênis, a vagina ou o ânus das partes do
corpo que usamos em outros trabalhos considerados "braçais", a não ser
os tabus que interditam a sexualidade e querem escondê-la sob uma redoma
sombria e custodiada por demônios?
"Eu sou mulher, mãe, filha, avó e puta",
dizia Gabriela Leite, desafiando o sentido pejorativo e preconceituoso
da palavra. Já é hora de que nos assumamos: veados e sapatões, putas,
negros, macumbeiros, nordestinos, favelados, latino-americanos, sem medo
nem vergonha de dizer quem somos, sem medo nem vergonha de sermos
felizes.
O Estado deve combater a exploração
sexual e o tráfico de pessoas e garantir que ninguém seja obrigado/a
(por um proxeneta, pela máfia ou por circunstâncias sociais) a exercer a
prostituição. E, da mesma maneira, o Estado deve reconhecer os direitos
daquelas pessoas que decidem se dedicar ao trabalho sexual, sejam do
gênero masculino ou feminino. Sei que, por dizer isso, posso ser tachado
de "liberal". Ora, não tenho medo de ser "liberal" para defender o
direito ao aborto ou à prostituição, da mesma maneira que, para defender
os interesses da classe trabalhadora, não tenho medo de ser socialista.
Porém, essa discussão ideológica
(teórica), que é muito interessante e deve ser feita, não pode ter mais
destaque que os anseios humanos, reais, marcados no corpo, daqueles e
daquelas que, como as prostitutas que me procuraram quando eu era,
ainda, candidato (e elas acreditaram que, se eleito, poderia ser dos
poucos que topariam, sem medo nem vergonha, defender as putas), precisam
de nós para ter garantidos seus direitos fundamentais.
2 comentários:
ALÔ, ALÔ PIONEIRO, TEM CRECHE QUE AINDA NÃO CRESCEU.
TEM UMA CRECHE NAS ÁGUAS LINDAS EM ANANINDEUA, QUE IMPERA O PURO ASSÉDIO MORAL.
QUEM NÃO É CONCURSADO E É TEMPORÁRIO SEMPRE É REPRIMIDO, SENDO AMEAÇADO O TEMPO TODO DE SER DEMITIDO SE NÃO FOR ESCRAVO DA DIREÇÃO, ISSO É UM ABSURDO.
OS CONCURSADAS QUE DISCORDAREM DE ALGUMA COISA É PERSEGUIDO.
SEMEDE TEM PROFESSOR 200 HORAS QUE MINISTRA NO MÁXIMO 10 HORAS DE AULA NA SEMANA E AINDA TEM FOLGA DURANTE A SEMANA, TUDO DE ACORDO COM A DIREÇÃO.
TEM PROFESSORAS TEMPORÁRIAS, CUMPRINDO TRABALHO DE COORDENADORA, PURO DESVIO DE FUNÇÃO.
TÁ NA HORA DE MUDAR ESSA DIREÇÃO PIONEIRO, E FAZER ELEIÇÃO PARA A ESCOLHA DA GESTORA para a escola.
Faça uma visita surpresa na escola e veja o ponto e o horário dos professores.
essa COISA que chegou ao congresso arrastado por legenda sem nem uma representação vindo de um programa de baixo nivel, que por sinal é o pior programa ja visto na televisão brasileira. Vem falar de regulamentação de prostituição. Não é atoa que foi adotado e com certeza ele é o fruto da profissão( prostituta) por carregar estigma tem a mente auto destrutiva. Prostituição é um recurso de sobrevivência, que o ser humano se submete para não morrer de fome, não deve ja mais ser encarado como profissão ; as trabalhadoras da CUT sabem o que dizem e sabem o que querem, elas e somente elas opnar, não este sociopata OLENILTON
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