sexta-feira, 17 de janeiro de 2020

Entrevista com KAROL CAVALCANTE: FALA DA SUA POSSE NO DIRETÓRIO NACIONAL DO PT, e a agressão que sofreu de um militante do seu partido esta semana


A PARAENSES, TOMA POSSE NO DIRETÓRIO NACIONAL DO PT.


Nesta sexta-feira (17), em São Paulo, a presidenta reeleita do Partido dos Trabalhadores a nível nacional, Gleisi Hoffmann, toma posse juntamente com o novo diretório para o quadriênio 2020-2024.

A deputada federal foi reeleita para seu segundo mandato como presidenta do PT ainda em 2019, quando foi realizado o 7º Congresso Nacional do Partido. Entre os membros do novo diretório nacional, está a socióloga e mestra em ciência política pela UFPA, Karol Cavalcante, que também será reconduzida ao mandato.
Karol foi candidata a presidenta do PT do Pará nas eleições internas do partido do ano passado, ficando em 2º lugar, alcançando uma expressiva votação.

O PT comemorará 40 anos em fevereiro de 2020, e nessas quatro décadas, foi a primeira vez que uma mulher se candidatou ao cargo mais alto. Pela ousadia, desde então, Cavalcante vem se destacando estadualmente dentro do partido como uma grande liderança crítica aos rumos do PT no estado. O Ananindeua em Debates entrevistou Karol Cavalcante na tarde desta quinta.
Confira abaixo a entrevista na íntegra.

Ananindeuadebates - Karol Cavalcante, você foi eleita para direção nacional do PT, e toma posse nesta sexta 17/01, qual a importância da mulher nas instâncias partidária?  

Karol Cavalcante - O PT sempre inovou em relação a participação das mulheres nas instâncias  partidárias. Foi assim ao aprovar as cotas para candidaturas femininas, ao incorporarmos a paridade nas instâncias de direção em todos os níveis e na construção de uma visão global de políticas públicas voltadas para igualdade de gênero. No entanto, isso não foi suficiente para que tenhamos uma presença maior das mulheres no parlamento e nos principais espaços de representação do partido. No Pará, nossa candidatura a presidência estadual do partido em 2019, representou um marco ao ser a primeira em 40 anos. Nacionalmente, Gleisi Hoffmann foi a primeira mulher a presidir o PT em 40 anos de existência.

Mesmo as mulheres tendo sido incansáveis no questionamento ao machismo, ele ainda segue presente no cotidiano das relações partidárias. Nossa atuação nos espaços de direção tem sido fundamental dentro do partido, contribuindo para o questionamento de práticas machistas, na defesa de um programa partidário que incorpore os interesses das mulheres e na construção de um processo de auto-organização e empoderamento das mulheres do PT. Para nós é indispensável que o partido se identifique de forma efetiva com a subversão dos padrões, dinâmicas e valores que se fundam na hierarquia opressora das relações de gênero.


AD - O PT deve debater a nível nacional o processo eleitoral, vai ser o primeiro embate nas ruas depois da eleição do presidente Bolsonaro, e também da libertação de Lula. O Partido vai colocar o debate sobre a volta da democracia nas eleições municipais?

KC - A implementação ofensiva da agenda neoliberal de Bolsonaro/Guedes tem levado ao aprofundamentoda crise econômica, social e política no nosso país. Desemprego, violência, aceleração das desigualdades sociais, quadro recessivo que submete milhões de brasileiros/as a viver na extrema pobreza… É neste cenário que vamos enfrentar as eleições de 2020. Não é possível disputar essa eleição sem falar ao povo brasileiro quem são os verdadeiros responsáveis por levar o Brasil a recessão. Venderam para a maioria da população que bastava tirar a presidenta Dilma Rousseff que todos os problemas do Brasil estariam resolvidos. De 2016 pra cá a situação do povo brasileiro só piorou. O gás aumentou, a gasolina e a carne também. A ampla maioria dos municípios hoje são governados por partidos que apoiaram o golpe e elegeram Bolsonaro. Portanto, nacionalizar o debate, sem perder de vista as questões locais, é fundamental para que possamos apontar saídas para a atual realidade em que vivem milhões de brasileiros.
AD - Em Belém e Ananindeua o PT não definiu pré-candidaturas para prefeito. O partido está esperando o quê, ou quem?

KC - O segundo semestre de 2019 para o PT foi um momento de organização interna. Tivemos congresso Estadual e Nacional e em âmbito municipal tivemos o PED que levou as urnas 19.396 filiados/as no Pará em 126 municípios, o PT é o único partido no Brasil que elege seus dirigentes pelo voto direto dos filiados. Esse processo elegeu novas direções em todos os níveis e somente amanhã (17/01) é que o diretório nacional irá tomar posse e definir o calendário eleitoral do PT. Este calendário é que defini datas e critérios para os encontros de tática eleitoral e prévias, caso tenha mais de um candidato ou candidata pleiteando candidatura majoritária. O PT é um partido de tradição democrática e portanto tem um processo de amplo debate para a definição de escolhas de candidaturas. Esse calendário que será aprovado amanhã não impediu que os municípios conversem sobre o assunto, debatam entre seus filiados ou até mesmo mantenham conversas com outros partidos. O que acredito que já vem sendo feito pelas direções de ambos os municípios. É importante destacar que tanto Belém quanto Ananindeua são cidades acima de 100 mil eleitores e portanto deverão fazer parte da estratégia nacional do partido que será debatida na reunião de amanhã pelo novo diretório nacional.
AD - Você foi muito citada em alguns portais e jornais, blogs e redes sociais, referente a uma agressão ( leia aqui) sofrida por parte de um membro do seu partido, essa agressão foi política ou de gênero?

K - Ambas, pois o texto odioso e ofensivo que recebi envolveu argumentos que atacam a minha trajetória política dentro do PT e veio encharcado de argumentos machistas com o objetivo de me atacar como mulher. Este ano completo 20 anos de militância no PT, tenho uma história de vida dedicada ao partido e não vou aceitar que seja lá quem for ataque minha trajetória como sendo uma trajetória de “oportunismo e não de construção” conforme diz o texto que recebi. Por tratar-se de um filiado ao PT, optei primeiramente por levar o assunto para as instâncias partidárias. Caso o PT não tome providências em relação a essa agressão verbal gratuita e absurda, aí sim pretendo judicializar a questão. Recebi ligações de diversos presidentes estaduais de partidos aliados e tenho recebido solidariedade de centenas de militantes do PT. Isso mostra que não estamos sozinhas e que esse tipo de comportamento não irá prosperar no interior do partido.

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