Jadson Oliveira, 66 anos. Trabalhou como jornalista em vários jornais (Tribuna da Bahia, Jornal da Bahia, Diário de Notícias, sucursal do Estadão, jornal Movimento) e assessorias de comunicação, de 1974 a 2007, sempre em Salvador-Bahia. Na década de 70 militou no PCdoB e no movimento sindical bancário. Ao aposentar-se, em fevereiro/2007, começou a viajar pelo Brasil, América Latina e Caribe. Virou repórter/blogueiro. Passou temporadas em Cuba, Venezuela, Manaus, Ananindeua (quando do Fórum Social Mundial/2009) e Curitiba, com passagens rápidas por Palmas, Goiânia e Campo Grande. Depois esteve no Paraguai, Bolívia, Trinidad e Tobago, São Paulo e Buenos Aires. Agora está passando uma temporada em Salvador. Onde está, procura cobrir principalmente os movimentos sociais, com um olho na integração latino-americana. Mantém o blog Evidentemente e colabora com Fazendo Media: a média que a mídia faz, Ananindeua Debates e Pilha Pura.
“INDIGNADOS!?” O QUE FAZER?
Manifestantes do Occupy Wall Street depois de serem desalojados do Zuccotti Park (Foto: reprodução da Internet) |
De Salvador (Bahia) - Há algo de novo, de estranho, de surpreendente na conjuntura política internacional e as esquerdas se quedam perplexas. São os chamados “indignados”: manifestantes – a grande maioria jovens, muitos manejando as moderníssimas tecnologias da informática, especialmente as redes sociais, grande parte sem partidos e sem organização política – que saem às ruas, ocupam praças e protestam dizendo que assim como estão as coisas não podem continuar, que ninguém agüenta mais as desigualdades sociais, a violência policial, que os governos são capachos do capital financeiro, dos bancos, e a tal da democracia representativa “não nos representa mais”.
Começaram há um ano na Tunísia e no Egito, norte da África, onde derrubaram os dois ditadores de décadas – Zine Ben Ali e Hosni Mubarak (não derrubaram as ditaduras, mas pelo menos os ditadores). Era o início da chamada Primavera Árabe, que foi se espalhando como fogo em capim seco. Chegou à Europa, em especial à Espanha, onde as gigantescas concentrações na praça Puerta del Sol, em Madri, ganharam estrondosa visibilidade. E bateu no coração do império capitalista em crise, Wall Street, em Nova Iorque, onde a repressão violenta conseguiu desalojá-los do Zuccotti Park, mas não logrou extinguir o movimento batizado de Occupy Wall Street. Em 15 de outubro, o chamado 15-O, o eco dessa original rebeldia chegou a cerca de 800 cidades pelo mundo, inclusive Salvador, onde 80 jovens protestaram na Praça da Piedade e desfilaram até a Praça Municipal.
O que fazer? Os governos, a maioria representantes dos interesses das corporações transnacionais, manobram e tentam minimizar o estrago: “Eles não sabem o que querem”, dizem. A chamada grande imprensa, aliada incondicional do capital, prefere destacar “a revolução do Twitter e do Facebook”. E as esquerdas hesitam: não se veem nas bandeiras e nas palavras-de-ordem, estão à margem, quando muito apenas uns resquícios da tradição anarquista.
Talvez uma única certeza: se os protestos ficam somente na esfera simbólica, se não gerarem novas organizações políticas, os “indignados” podem ser digeridos pelo sistema, quiçá com algumas concessões simbólicas.
O que fazer? Os governos, a maioria representantes dos interesses das corporações transnacionais, manobram e tentam minimizar o estrago: “Eles não sabem o que querem”, dizem. A chamada grande imprensa, aliada incondicional do capital, prefere destacar “a revolução do Twitter e do Facebook”. E as esquerdas hesitam: não se veem nas bandeiras e nas palavras-de-ordem, estão à margem, quando muito apenas uns resquícios da tradição anarquista.
Talvez uma única certeza: se os protestos ficam somente na esfera simbólica, se não gerarem novas organizações políticas, os “indignados” podem ser digeridos pelo sistema, quiçá com algumas concessões simbólicas.
Um comentário:
PARABÉNS AO AD, que junto com reportér/blogueiro levantam esse debate e tocam na "ferida" dessa que é, sem dúvida, a questão central hoje da política mundial (e brasileira, no meio de tudo isso!!!).
O mundo tá diferente: a crise, hoje, está no centro do capitalismo; o tal neoliberalismo não consegue mais responder aos interesses das elites mundiais; o monstro "MERCADO" ficou sem controle, não regulamenta, não controla a corrupção, inerente do capitalismo, não consegue mais "disfarçar" a chamada exclusão estrutural, também inerente, ao capitalismo em sua fase globalizada e não consegue apontar perspectivas de curto e médio prazos de saída da crise. Um exemplo disso, é essa medida na França reduzir salário para combater o desemprego que assola a França e a Europa. Ora, todos sabemos onde isso vai dar, baixos salários significam redução de consumo, que significa estoques encalhados, produção reduzida, menos horas de trabalho, perda de postos de trabalho, ou seja, mais crise.
E a juventude, assim perdida, resolveu ir a luta no mundo, via redes sociais e começou a questionar o regime, a se indagar pelo seu futuro? E o planeta como fica? E a exploração, sem controle, dos recursos naturais? Não há acordos concretos e factíveis nas reuniões de G8, G20 ou COP. Ninguém cumpre as metas dos protocolos assinados, já países saindo pois serão penalizados por descumprirem os acordos internacionais.
Nesse ponto, se expressa a questão central desse debate, será que a juventude local, global irá tomar para si as rédeas das lutas, das vitórias pontuais, das derrotas impostas pelo regime. Ou será, apenas um arroubo, uma rebeldia momentânea própria da juventude que não considera nem o presente, muito menos o futuro.
E é claro, nessa equação política, como fica a esquerda, será que irá refletir os anseios, os intersses dos milhões de excluídos estruturais, assumirá para si as bandeiras ambientais, estruturais e as lutas que esse momento requer?
Ou então, continuará sem entender, sem refletir, ou que é pior, sem agir, no momento em que não há alternativas concretas, não há movimentos sociais organizados, combativos e suficientemente claros de seu papel. Ou então, na falta de formulação política mais abalizada, de compreensão de seu horizonte estratégico, a esquerda, pelo menos aqui no Brasil, continuará fazendo o que sabe fazer muito bem:
- Cooptar os movimentos sociais e, fazer deles correia de transmissão, com raríssimas exceções, de seus interesses e, assim evitar grandes sobressaltos para as elites do país;
- Eleger um número cada vez maior de parlamentares, para acumular cada vez mais poder e assim, negociar melhor os cargos governamentais;
- Eleger governos centrais, que até incluem milhares de miseráveis, ascendendo-os para pobres que podem consumir, mas que não enfrenta os problemas estruturais, gravíssimos, do país, porque isso significa ferir e enfrentar interesses poderosos;
- E as vezes, até aprovar algumas leis que são, por incrível que pareça, do interesse da grande maioria.
Enfim, isso já é trabalho demais, para as esquerdas, isso, quando não tão envolvidas em algum escandalo, que a imprensa golpista irá denunciar e, assim perderão a simbologia de serem lutadores do povo, de esquerda importa, embora nesse momento, eles só pareçam de esquerda, nada além disso!!!
Concluo, sem finalizar isso não amargura de final de ano, quando muito uma melancolia revoltante, dos bons tempos em que enfrentavá-mos as lutas, no combate, construindo laços de solidariedade sinceros com os movimentos. Não é também, as reflexões de um dono da verdade, pois afinal, também, não tenho as respostas para todas essas questões. Apenas tenho a certeza, que é preciso refletir coletivamente, pois senão perderemos a chance de ter lutado, ter construído uma utopia...
um sonho... um novo outubro!!!
Há, já esquecendo desejo a todos os blogueiros e internautas, um ano novo de respostas, de lutas, de sonhos e utopias para serem vivenciadas por todos. UM GRANDE ABRAÇO!!!
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