segunda-feira, 6 de outubro de 2025

Por que os governos de esquerda não deram certo no Pará

 


A história política recente do Pará mostra que as experiências de governos de esquerda — tanto o de Ana Júlia Carepa (PT, 2007–2010) quanto as gestões de Edmilson Rodrigues (PSOL) em Belém — enfrentaram grandes dificuldades em consolidar-se e, sobretudo, em se reeleger. Ambas as administrações chegaram ao poder com forte expectativa popular de mudança, mas acabaram desgastadas antes de completar seus mandatos.

1. Expectativas populares versus limitações administrativas

A esquerda paraense chegou ao poder com um discurso de transformação social, combate às desigualdades e participação popular. Contudo, ao assumir o governo, esbarrou em uma máquina pública complexa, marcada por estruturas tradicionais, clientelismo e resistências internas.

A lentidão para entregar resultados concretos e a dificuldade em lidar com alianças políticas amplas minaram a confiança do eleitorado.

2. Isolamento político

Tanto Ana Júlia quanto Edmilson enfrentaram problemas de articulação política. A governadora petista sofreu forte oposição na Assembleia Legislativa e teve atritos até mesmo dentro da base aliada. Em Belém, Edmilson teve dificuldades de diálogo com o setor empresarial e com parte da classe média — o que o isolou de segmentos importantes da sociedade.

A falta de coalizões estáveis, em um estado de perfil conservador, cobrou seu preço nas urnas.

3. Descompasso entre discurso e prática

Em ambos os casos, as gestões foram criticadas por desviar-se das pautas originais da esquerda. Projetos participativos, transparência e diálogo com movimentos sociais ficaram em segundo plano diante da pressão por obras e resultados administrativos.

Esse distanciamento do “projeto popular” gerou frustração entre militantes e simpatizantes, que esperavam uma atuação mais transformadora.

4. Comunicação e narrativa

A esquerda no Pará também falhou em comunicar seus avanços. Muitas realizações de Ana Júlia — como investimentos em educação e infraestrutura — não tiveram o mesmo impacto simbólico que os erros administrativos amplificados pela oposição.

Edmilson, por sua vez, manteve um discurso ideológico forte, mas perdeu espaço na comunicação digital e nas redes sociais, onde a direita local tem sido mais eficiente em pautar o debate público.

5. Desafio futuro: reinventar a esquerda paraense

O fracasso eleitoral desses governos não significa o fim do projeto progressista no Pará, mas indica a necessidade de autocrítica e renovação.

A esquerda precisa entender o perfil do eleitor paraense — plural, desconfiado e pragmático — e construir um projeto que una gestão eficiente, políticas sociais sólidas e diálogo permanente com diferentes setores da sociedade. Fonte Chapt 

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