Via site Já Imaginou Isso? Jordão Vilela
A China desenvolveu uma solução impressionante envolvendo energia e água em Rizhao.
O dilema do hidrogênio que sempre travou a transição energética
Durante anos, o hidrogênio foi apontado como um dos combustíveis mais promissores do futuro. Ele é limpo, eficiente e não emite gases poluentes quando utilizado. O problema sempre esteve na origem.
Para produzir hidrogênio verde, era necessário consumir grandes volumes de água doce, um recurso cada vez mais escasso e disputado por cidades, agricultura e ecossistemas. Esse paradoxo freou a expansão do setor e colocou em dúvida sua viabilidade em larga escala.
Uma nova usina na China pode finalmente ter encontrado uma saída para esse impasse. A usina chinesa que mudou a lógica da produção de hidrogênio
Na cidade costeira de Rizhao, na província de Shandong, a China inaugurou uma instalação experimental que combina dessalinização da água do mar com produção de hidrogênio verde.
Mas o projeto vai além de simplesmente unir dois processos. Ele opera sob um conceito de economia circular conhecido como “um entra, três saem”.
A partir da água do mar, a usina consegue produzir água doce de alta pureza, hidrogênio verde e uma salmoura rica em minerais, utilizada como insumo na indústria química.
Não se trata de uma melhoria gradual. É uma mudança estrutural na forma de pensar a produção de energia limpa. Água potável mais barata que a água da torneira
Um dos dados que mais chamam atenção é o custo da água produzida pela usina. Cada metro cúbico de água doce sai por cerca de US$ 0,28, valor inferior ao cobrado em grandes cidades chinesas.
Para efeito de comparação, países líderes em dessalinização, como a Arábia Saudita, produzem água doce a um custo médio de US$ 0,50 por metro cúbico. Na Califórnia, esse valor ultrapassa US$ 2.
Ou seja, além de gerar energia limpa, o sistema ainda entrega água potável a um preço extremamente competitivo.
Por que o hidrogênio verde sempre foi caro
A produção tradicional de hidrogênio verde enfrenta três grandes obstáculos.
O primeiro é a necessidade de água extremamente pura, algo raro e caro em regiões industriais costeiras. O segundo é o alto consumo de energia, já que dessalinizar a água e depois fazer a eletrólise cria um custo duplo. O terceiro é a corrosão causada pelos sais presentes na água do mar, que danificam equipamentos convencionais.
A surpresa? A água limpa custa apenas US$ 0,27 por metro cúbico (R$1,48 em reais), mais barato do que a água da torneira nas grandes cidades.
A usina de Shandong resolve esses três problemas ao mesmo tempo, combinando novos materiais, integração energética e reaproveitamento de recursos.
O papel do calor desperdiçado pela indústria
Outro ponto-chave do projeto está na energia utilizada. A usina aproveita calor residual de siderúrgicas e indústrias petroquímicas próximas, energia que normalmente seria dissipada na atmosfera.
Esse calor alimenta tanto o processo de dessalinização quanto parte da eletrólise, aumentando a eficiência energética em cerca de 20% em relação aos sistemas tradicionais.
O resultado é um hidrogênio verde com custo muito mais próximo do hidrogênio cinza, produzido a partir de combustíveis fósseis.
Um modelo ideal para polos industriais costeiros
A localização da usina não é coincidência. Regiões costeiras concentram portos, indústrias pesadas, demanda por água e grandes volumes de energia residual.
Esse modelo cria uma simbiose industrial poderosa. As fábricas passam a ter acesso local a água doce e hidrogênio limpo, enquanto a usina elimina custos com transporte e energia.
Segundo pesquisadores do Laboratório Laoshan, em Qingdao, esse sistema está totalmente alinhado com o desenho industrial costeiro da China e representa um novo paradigma para energia de baixo carbono. Leia mais
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