terça-feira, 5 de julho de 2011

2 DE JULHO: O IMENSO PALCO DOS MOVIMENTOS SOCIAIS DA BAHIA



Coluna Diário de um Blogueiro: Jornalista e atual blougueiro Jadson Oliveira (Foto), 64 anos, trabalhou como jornalista, em diversos jornais e assessorias de comunicação, de 1974 a 2007, sempre em Salvador (Bahia). Na década de 70 militou no PCdoB e no movimento sindical bancário. Ao aposentar-se, em fevereiro/2007, começou a viajar pelo Brasil, América Latina e Caribe. Esteve em Cuba, Venezuela, Manaus, Belém/Ananindeua (quando do Fórum Social Mundial/2009) e Curitiba, com passagem por Palmas, Goiânia e Campo Grande. Depois Paraguai, Bolívia, Trindad Tobago , Argentina,  Sampa e esses dias de férias na Bahia:  Acesse o Blog do Jadson

A figura do caboclo no cortejo simboliza a participação popular
na guerra para expulsar as tropas portuguesas
(Fotos: Jadson Oliveira)
Condenação aos critérios anti-populares dos preparativos para a Copa de 2014 foi uma das dezenas de
campanhas que arrastaram milhares de pessoas pelas ruas de Salvador
De Salvador (Bahia) – Reivindicações, protestos e campanhas as mais variadas. Tem de tudo, ou quase tudo, na grande manifestação de rua que constitui a festa do 2 de Julho, a data cívica em que os baianos comemoram a independência da Bahia, ou melhor, a consolidação da independência do Brasil – 2 de julho de 1823 (mais informações abaixo). Da Lapinha ao Terreiro de Jesus, passando pelo Pelourinho, no centro da cidade, são mais ou menos três horas – das 9 da manhã ao meio-dia - de um desfile que reúne milhares de pessoas e dezenas de movimentos sociais/populares, temperado com muita alegria, muito colorido e muita música.


É um imenso palco por onde passam políticos, sindicalistas, militantes de causas as mais diversas, jovens escolares, integrantes das belas e ruidosas fanfarras e curtidores dos mais variados matizes. A variedade e irreverência das manifestações podiam ser notadas logo no Largo da Soledade, na Lapinha, antes mesmo de se iniciar o desfile: ao pé da estátua de Maria Quitéria, heroína das batalhas travadas contra as tropas portuguesas, uma jovem exibia o sugestivo cartaz: “Só faço por $ e quando quero”. E logo juntinho duas faixas, uma defendendo a descriminalização do aborto e outra reclamando: “Obama, liberte os 5 heróis cubanos”, referência aos cubanos que denunciaram a preparação de atos terroristas contra seu país e foram presos e condenados como terroristas pela Justiça dos Estados Unidos.


Isso é só uma pequena mostra do que se podia ver no sábado, no 2 de Julho deste ano, da Lapinha ao Terreiro de Jesus: cobrança sobre o assassinato do sindicalista Paulo Colombiano (era diretor do Sindicato dos Rodoviários) e sua esposa, há um ano sem qualquer elucidação; professores da rede estadual cobrando do governador Jaques Wagner o pagamento de diferenças salariais originadas da URV quando da adoção do Plano Real (1994); professores das universidades estaduais criticando duramente o mesmo governante petista também por questões salariais.


A turma do Comitê Baiano pela Verdade botou o bloco na rua para defender a aprovação da Comissão
Nacional da Verdade, empacada no Congresso há mais de um ano.
Professores das universidades estaduais, que vêm de uma greve recente que chegou a atingir dois meses,
fizeram duras críticas ao governador Jaques Wagner
O ex-governador Waldir Pires (ao seu lado o deputado Emiliano José) liderou o grupo de militantes do PT
E mais: a defesa de um Comitê Popular da Copa, para proclamar que a Copa do Mundo de 2014 é preparada só levando em conta os interesses de corporações empresariais, de “popular” mesmo somente a expulsão de pobres de suas moradias e, claro, a torcida da nossa Seleção; um “não” à Usina de Belo Monte e um “sim” ao Comitê Baiano pela Verdade, na luta pela aprovação da Comissão Nacional da Verdade para passar a limpo os crimes de lesa humanidade da ditadura brasileira (1964-1985); e houve, como todos os anos, os blocos dos partidos políticos, que são mais incrementados nos anos eleitorais (o do PT, capitaneado pelo ex-governador Waldir Pires, e o do PCdoB marcaram forte presença); e etc, etc, como disse, é apenas uma pequena mostra, porque do contrário a matéria viraria um relatório.


Uma data cívica baiana ou brasileira?


Esta é a parte que poderíamos chamar de popular. Na parte mais oficial, logo antes do desfile, no Largo da Lapinha, houve o hasteamento de bandeiras com a participação do governador, do prefeito de Salvador, João Henrique (alvo também de muitas críticas durante o cortejo) e do presidente da Assembleia Legislativa, Marcelo Nilo. Após o desfile, no início da tarde, há uma cerimônia na frente da Câmara de Vereadores, na Praça Municipal. E a partir das 3 horas da tarde, o desfile é retomado – já sem a maciça presença popular – rumo ao Campo Grande, para onde são conduzidas, finalmente, as duas carroças que ostentam as figuras do caboclo e da cabocla.


Tais figuras representam o detalhe mais genuíno da luta dos baianos, sob a chefia do general francês Labatut, para expulsar os portugueses depois do chamado Grito do Ipiranga, em 7 de setembro de 1822, que vem a ser a data consagrada oficialmente como da independência do Brasil. O caboclo e a cabocla simbolizam a participação das camadas pobres, incluindo escravos, indígenas e vaqueiros, na guerra contra os portugueses.


Os indígenas, assim como escravos, caboclos e vaqueiros, formaram entre os
soldados que expulsaram as tropas colonizadoras
Foi talvez a única ocasião em que o povo pobre brasileiro pegou em armas para lutar contra o opressor e resultou vitorioso. Em outras lutas marcadamente populares - como a Guerra de Canudos na Bahia (1896-1897), liderada pelo beato Antônio Conselheiro, a Revolta dos Malês (1835), também na Bahia, as rebeliões dos escravos fugidos, a exemplo da de Zumbi dos Palmares – os rebeldes em armas foram literalmente exterminados. (Claro que depois do triunfo contra os portugueses os “caboclos” voltaram ao seu lugar, ou seja, voltaram à marginalização, e os escravos voltaram a ser escravos).


Essa tal consolidação da independência na Bahia, 10 meses após o suposto grito de Independência ou Morte, atribuído ao então príncipe Dom Pedro, pelo que me consta, só é conhecida pelos baianos. No resto do país, o 2 de Julho termina ficando na memória nacional como mais uma manifestação da folclórica inclinação dos baianos para a festança. Para ilustrar: a hoje senadora Lídice da Mata (PSB-BA) - por sinal sempre presente na festa, como no sábado último – era deputada federal quando o nome do aeroporto de Salvador foi mudado de “2 de Julho” para “Luis Eduardo Magalhães”. Consta que ela teria comentado sobre a dificuldade de argumentar contra a mudança de nome, porque os ilustres congressistas seus colegas simplesmente desconheciam de que se tratava esse tal “2 de Julho”.
 

3 comentários:

Toquinho disse...

Eh baiano, tu só queres fazer militância na Bahia agora, é? só água de côco, praia, muito axé e as baianas ao redor. Assim jogador,...hzhzhzh

Uma abraço.

toco

Jadson disse...

Grande Toquinho, grande abraço, companheiro, saudades. Estou agora no "inverno" baiano, mas, como vê, continuo trabalhando.

Toquinho disse...

Meu velho camarada Jadson, vem militar um pouco pra essas bandas também. Nós temos um cenário político conturbado, em função da corrupção no parlamento estadual, que ganhou o noticiário nacional; o recrudescimento da violência no campo, com assassinato de trbalhadores rurais; a polêmica da divisão do Estado e a luta das populações tradicionais da Amazônia contra o empreendimento criminoso de Belo Monte. POrtanto, um terreno rico e bastante fértil para companheiros imprescindíveis como vc, contribuírem com sua ferramenta para contrabalançar o massacre ideológico da grande mídia burguesa local.

Um abraço saudoso.

toco