Via site Fatos por Marco Faustino
Números mencionados pela primeira-dama correspondem a dados demográficos da Bacia Amazônica, que engloba oito países da América do Sul;
Banco Mundial, ONU e ONGs ligadas ao meio ambiente trazem números próximos aos mencionados no discurso;
Algumas publicações enganosas também contém ofensas direcionadas à primeira-dama.
A primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja, não mentiu ao dizer em discurso às vésperas da COP30 (Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas) que a Amazônia concentra quase 50 milhões de habitantes, 400 povos indígenas e mais de 300 idiomas. Os dados abarcam os territórios brasileiros e estrangeiros nos quais a floresta está localizada e foram publicados pelo Banco Mundial, pela ONU (Organização das Nações Unidas) e por ONGs ligadas ao meio ambiente.
As peças enganosas acumulavam 26 mil compartilhamentos no Facebook e 5.000 curtidas no Instagram até a tarde desta sexta-feira (7). Posts nas redes têm acusado falsamente a primeira-dama de ter usado dados enganosos sobre a Amazônia durante discurso no Global Citizen Festival, evento realizado no último sábado (1°) em Belém (PA) às vésperas da COP30.
Na ocasião, sem especificar o recorte demográfico, Janja disse que a Amazônia tem quase 50 milhões de habitantes, 400 povos indígenas e mais de 300 idiomas. Os dados citados pela primeira-dama abarcam áreas nacionais e estrangeiras da floresta, a chamada Bacia Amazônica ou Amazônia Internacional, e são corroborados por entidades internacionais. Segundo o Banco Mundial, a Amazônia tem 47 milhões de habitantes em uma área de 6,7 milhões de km² e abrange, além do Brasil, o Peru, a Bolívia, o Suriname, a Colômbia, a Venezuela, a Guiana, o Equador e a Guiana Francesa.
Números próximos também são citados pelo Pnuma (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente) e por ONGs ambientalistas, como a OTCA (Organização do Tratado de Cooperação Amazônica) e a WWF. De acordo com o Pnuma, a Amazônia tem mais de 400 grupos étnicos indígenas, com uma “enorme riqueza humana em culturas e línguas”. Já a OTCA sustenta que a região abriga povos que falam mais de 300 idiomas, o que também sustenta as declarações da primeira-dama.
Para corroborar a tese de que Janja teria inflado os números sobre a Amazônia, os posts enganosos compartilham dados do censo de 2022 do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) sobre a Amazônia Legal, uma área delimitada pelo governo brasileiro em 1953 que compreende apenas nove estados dentro do território nacional: Os dados mostram que há 26,7 milhões de pessoas vivendo na Amazônia Legal — número próximo do divulgado pelo Banco Mundial para esse recorte demográfico;
Em todo o Brasil, há ainda 391 etnias e 295 idiomas indígenas;
Do total de etnias, 259 estão presentes no Amazonas e 222 no Pará, os dois maiores estados da Amazônia Legal. Alguns posts enganosos compartilham ofensas contra Janja. Comentários depreciativos baseados em teses enganosas sobre a primeira-dama são recorrentes nas redes, conforme já mostrado pelo Aos Fatos em reportagem.
Lula. Na última quinta-feira (6), durante a sessão Clima e Natureza: Florestas e Oceanos, na Cúpula de Líderes da COP30, o presidente Lula (PT) fez uma declaração semelhante à de Janja:
“Mas a floresta não é só feita de flora e fauna. Cinquenta milhões de pessoas vivem no território amazônico da América do Sul, em metrópoles como Belém ou Santa Cruz de la Sierra e em vilarejos, comunidades ribeirinhas e aldeias. Aqui, vivem 400 povos indígenas, que falam mais de 300 idiomas”, disse o petista.
Aos Fatos, no entanto, não encontrou nas redes publicações ofensivas iguais ou semelhantes às direcionadas a Janja. A reportagem entrou em contato com a Secom (Secretaria de Comunicação Social) da Presidência da República para questionar a respeito do teor da fala da primeira-dama e informar a respeito dos posts ofensivos que circulam contra ela, mas não houve resposta. O texto será atualizado em caso de retorno. O. caminho da apuração
Aos Fatos analisou o discurso da primeira-dama em registros oficiais e em vídeos do evento para identificar o contexto e as fontes dos dados citados. Em seguida, consultou publicações do Banco Mundial, da ONU e de organizações ambientalistas, como a OTCA e a WWF, que apresentam estatísticas sobre a região da Bacia Amazônica.
A equipe também conferiu os dados do Censo 2022 do IBGE referentes à Amazônia Legal, a fim de comparar os diferentes recortes geográficos. Por fim, Aos Fatos mapeou os posts que circulavam nas redes sociais e verificou o volume de interações e o teor das mensagens, para compreender a disseminação das alegações.


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